sábado, 28 de agosto de 2010
Dor na Noite
A dor ainda rouba-te o sono
Não
Não tens sono
Vives como sonâmbulo
Espectro da noite
Que ficas para assistir ao espetáculo na TV
E ficas mudo
Não
Não comunicas para o mundo o que sentes
Mas o que é que sentes
A TV anuncia o fim do mundo
O tiro A bala
A morte da mãe grávida
A justiça errada
De repente percebes que não é apenas espectador
Também fazes parte do espetáculo
Porém não sabes
Nada se resolve Para curar tua dor no meio da noite
Pensas demais e nada fazes
Enquanto outros trabalham
Operam máquinas estrangeiras
Para inventar remédios e curar a dor de outros
Tens apenas um papel e um rabiscar patético
Escreves na madrugada
Mas por que escreves
Para ser ridículo
Para criar mundos Para ser Deus
Que consolo
Que bem
Que proveito tens Das tuas infâmias escritas que ninguém lê
O operário na obra ignora a ópera
Não sabes
Os poetas foram expulsos da República
Eles não recitam mais nas praças
Não cantam nos palácios
Nem nos teatros
Escreves para ti então
Para os bêbados e para os loucos
Não percebes
Teus poemas são um balbuciar de um demente
A bater e a xingar a si mesmo
Escreves para esquecer a dor
Não
Não A poesia não te salvas
E a dor ainda rouba-te o sono
Alex Zigar
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Escreva sempre, sempre...
ResponderExcluirRoube madrugadas,
roube os silêncios, os ecos, os sentidos...
porque a escrita é um dom maravilhoso!
abraços, Alex,
meu carinho!
A poesia salva-nos, sim, Alex...mesmo que o amor morra, que ela permaneça na noite, nas madrugadas, nos lábios cansados, nos dias cinzas ou azuis...
ResponderExcluirUm bom fim de semana!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNão tens apenas um papel, mas uma janela e não um rabiscar, mas um dom divino para alertar aos homens que a revolução já vem. Escreves na madrugada, porque assim fazem os poetas.
ResponderExcluirBeijos!
Se a Poesia não nos salva, que então nos salvará?
ResponderExcluirGrande abraço, Poeta!
Ângela, obrigado por esse carinho único de tuas palavras. Roubarei sim as madrugadas para devolvê-las em letras singulares quando assim a poesia me permitir.
ResponderExcluirAbraços.
Franck, agradeço a visita. Realmente a poesia permanece em nós apesar de tudo, às vezes, vira poema, obra de arte. E nos acudi de certo males e nos acata com outros, mas o certo, a certeza única que temos, é que amamos esse sentimento, essa inspiração.
ResponderExcluirGrande abraço.
Emy, como eu pagarei esse carinho? E com que prazer eu recebi suas palavras! Obrigado por tudo, minha querida!
ResponderExcluirBeijos!
Ótima pergunta, Richard. Talvez, eu precise viver mais uns cinquenta, sessenta anos para responder essa questão ou talvez nunca responda. Obrigado pela visita.
ResponderExcluirAbraços.
Alex, talvez a leitura ou a poesia não consigam nos salvar, mas (como declara Coetzee em Verão) será que alguém tem uma ideia melhor do que fazer com nossas vidas? E por falar em livros, como vai a leitura de 2666?
ResponderExcluirKovacs, obrigado pela participação. Aproveitando a deixa de 2666, lembrei-me de uma citação no romance sobre a poesia, do personagem Marco Antonio Guerra, muito interessante e que gostei demais: “Só a poesia não está contaminada, só a poesia está fora do negócio. Não sei se me entende, professor (Amalfitano). Só a poesia, e não toda, que fique bem claro, é alimento sadio e não merda” (p.225). Em relação à leitura do livro, infelizmente está lenta (devido alguns imprevistos). E a melhor coisa que podemos fazer com as nossas vidas, como dizia Fernando Pessoa é torná-la grande. Como? Citando Whitman: “... tu podes contribuir com um verso.”
ResponderExcluirGrande abraço.
belo poema. algumas estrofes e versos chegam a ser geniais. algumas estrofes tb me calham tão bem.
ResponderExcluirJuliana, agradeço o elogio. Mas não são versos geniais. E fico contente que você tenha gostado. Mais uma vez agradeço o carinho.
ResponderExcluirAbraços.
Alex,
ResponderExcluirSe me permite te falar sobre...
Nada conheço de salvação
Sou amigo dos párias,
Íntimo do sereno
Imão dos orfãos. Tenho, inclusive,
O estranho hábito de, ao deitar,
buscar o travesseiro - um porto
E ele me devolve não o cais
nem também onda gelada
Mas umas gotas selvagens
dessas cruas que se perdem nas rochas
Rochas mesmos
das vesgas, cimentadas
Como imaginei chamar de travesseiro
uma âncora torta.
...
Abraços,
bom te conhecer, Poeta.
Caro Alex, interessante seu poema. Agora, achei um pouco pessimista. Como diria Quintana: "Fora da poesia não há salvação", justamente ai vem a importância do poema. Acho que difícil mesmo é ser otimista, difícil e importante, já que as coisas tem uma tendência natural a darem errado, agora é manter-se otimista mesmo com essas "insalubridades", pois sempre superamos isso, uma espécie de estoicismo moderno, nada do otimismo incabível de Augusto Cury e sua corja de idiotas.
ResponderExcluirSaudações,
Gustavo Sandres
Bento Moura, seja bem-vindo as Letras Desarmônicas. Obrigado pela visita.
ResponderExcluirAbraços.
Sandres, seja bem-vindo as Letras Incorretas. E fique a vontade para gostar ou não das palavras e dos versos lançados aqui. Afinal, o propósito deste espaço é incomodar o leitor. Não tenho vocação para agradar ninguém. Em relação à literatura aqui, muito bem lembrado, quem não deseja a tempestade, o verme e o espinho, por aí, em outros lugares, está repleto de escrita fácil. E sobre explicações da minha poética, ver a postagem “Lorca e a Poesia”. Obrigado pela visita.
ResponderExcluirGrande abraço.
Alex, me perdoe, em momento algum queria ofendê-lo. Sempre tive o hábito de comentar sobre os poemas alheios, sejam bons ou ruins, não se incomode tanto meu caro, afinal minha opinião é apenas mais uma dentre tantos outros milhões que já foram formadas.
ResponderExcluirAbraço, sempre que puder voltarei, se for obviamente bem vindo.
Gustavo, claro que você será bem-vindo. Em momento algum fiquei ofendido nem perturbado com sua observação. Como já disse, fique a vontade para comentar. Leitores atentos e críticos serão sempre bem acolhidos por aqui. Sou eu quem pede desculpas, se por acaso a leitura do meu comentário soou com arrogância ou desprezo. Não tive qualquer intenção. Apenas tentei lhe explicar alguns pontos da sua observação. Não se perturbe e volte mais, para elogiar ou criticar, pois aprecio leitores sinceros.
ResponderExcluirGrande abraço.
Alex,
ResponderExcluirRecordo o Mário Quintana com esta postagem:
"Ser poeta não é uma maneira de escrever. É uma maneira de ser. O leitor de poesia é também um poeta. Para mim o poeta não é essa espécie saltitante que chamam de Relações Públicas. O poeta é Relações Íntimas. Dele com o leitor. E não é o leitor que descobre o poeta, mas o poeta é que descobre o leitor, que o revela a si mesmo."
(Mário Quintana)
Lígia, seja bem-vinda a “Letra Destoante”. Obrigado pelo carinho e pelo poema do saudoso e querido Mário Quintana. Sem dúvida, o leitor de poesia também é poeta, pois somente um poeta para compreender e sentir o valor de um poema ou de uma poesia. Assim como você ao agraciar-me com outro poema. Mais uma vez agradeço atenção.
ResponderExcluirUm forte abraço.
Não
ResponderExcluirNão A poesia não te salvas
E a dor ainda rouba-te o sono.
Não, ela não nos salva. Apenas conforta.
Espero que durmas bem esta noite.
Obrigado pela visita, Nicole. Realmente, às vezes, perco-me pela noite afora, sonhando demais ou andando com as reflexões sem consolo da lírica. Tolice minha. Deveria acreditar no poder balsâmico da poesia e dormir de uma vez. Amanhã, amanhã... Tudo estará bem com mais um levantar do sol.
ResponderExcluirAbraços.