[Café Noturno (1888) - Van Gogh]
Sonâmbulo
Costumo caminhar pelas ruas vazias
e a perder-me
A observar as rodas impecáveis dos automóveis
E a sentir o cheiro das prostitutas pela manhã
A andar pelas casas
e pelos os telhados vazios
e pela tarde morna
Com pedestres atônitos e vazios
Pelos fios dos postes
Carregados de energias e vozes
e casas desamparadas e de alvenarias
Com alfinetes e relógios
e caixas e utensílios descartáveis
E encontro campos e terras
com homens e mulheres
E fábricas de metais novos de nova engenharia
Óleos e burocracias
e escritórios e delegacias
Costumo caminhar pelas ruas vazias
A observar os mortos que marcham sólidos
E abatidos pela monotonia
Costumo caminhar pelas ruas vazias
E perder-me infinitamente
Entre ruas e casas
Assaltos e mortes
Atentados insanos e crimes passionais
Creio estar pálido
E pálido vou pela rua
Cruzando céus e muros
Sonolento das incertezas do mundo
Talvez já esteja morto e não sabia