Era José, João ou Mané. Era mais um entre tantos. Bigode fino, olhos fundos, aparência de cansado. Pele enrugada, um dente arrancado, mãos duras e ásperas como ferraduras.
Cavar a terra, amolar o facão,
cavar a terra, amolar o facão.
Ele acordava antes do galo. Voltava para casa depois do pôr-do-sol. Tinha quatro filhos, duas meninas e dois meninos. A mulher era obesa, seios flácidos, caídos, cabelos despenteados. A casa era alugada, casa de fundo, edícula, sem reboco, sem azulejo, infiltrações. Saudade dos parentes, da terra natal.
Cavar a terra, amolar o facão,
cavar a terra, amolar o facão.
Maria brincava na sarjeta quando viu o sorveteiro. A criança tinha dedos sujos. Roupa remendada. Cabelos rebelados contra o vento. Queria sorvete. Correu. Pediu dinheiro a mãe.
- A menina quer sorvete! - gritou a mulher para ele.
- Não tenho dinheiro – rebateu ele com a voz abafada.
Maria entrou no quarto onde estava o pai. Ficou a olhá-lo. Ela tinha olhos fundos iguais aos dele. Olhos de piedade e de incompreensão, olhos de ternura.
Há muito tempo ele não chorava, apesar das amarguras da terra. Não tinha culpa. Não culpava ninguém, nem patrão, nem político, nem Deus. Mandou a criança sair do quarto. Chorou e chorou.
Cavar a terra, amolar o facão,
cavar a terra, amolar o facão.
Cavar a terra, amolar o facão,
cavar a terra, amolar o facão.
No dia seguinte ele não foi trabalhar. Acordou ao meio-dia. Vestiu a roupa mais bonita. Foi à igreja. Era sexta-feira. Aproximou-se do padre. Deu um murro na cara do religioso, em seguida pegou a caixinha do altar e saiu.
De noite ele e a família foram a uma sorveteria. Maria chupou sorvete até lambuzar o rostinho.
Cavar a terra, amolar o facão,
cavar a terra, amolar o facão.
Ele acordava antes do galo. Voltava para casa depois do pôr-do-sol. Tinha quatro filhos, duas meninas e dois meninos. A mulher era obesa, seios flácidos, caídos, cabelos despenteados. A casa era alugada, casa de fundo, edícula, sem reboco, sem azulejo, infiltrações. Saudade dos parentes, da terra natal.
Cavar a terra, amolar o facão,
cavar a terra, amolar o facão.
Maria brincava na sarjeta quando viu o sorveteiro. A criança tinha dedos sujos. Roupa remendada. Cabelos rebelados contra o vento. Queria sorvete. Correu. Pediu dinheiro a mãe.
- A menina quer sorvete! - gritou a mulher para ele.
- Não tenho dinheiro – rebateu ele com a voz abafada.
Maria entrou no quarto onde estava o pai. Ficou a olhá-lo. Ela tinha olhos fundos iguais aos dele. Olhos de piedade e de incompreensão, olhos de ternura.
Há muito tempo ele não chorava, apesar das amarguras da terra. Não tinha culpa. Não culpava ninguém, nem patrão, nem político, nem Deus. Mandou a criança sair do quarto. Chorou e chorou.
Cavar a terra, amolar o facão,
cavar a terra, amolar o facão.
Cavar a terra, amolar o facão,
cavar a terra, amolar o facão.
No dia seguinte ele não foi trabalhar. Acordou ao meio-dia. Vestiu a roupa mais bonita. Foi à igreja. Era sexta-feira. Aproximou-se do padre. Deu um murro na cara do religioso, em seguida pegou a caixinha do altar e saiu.
De noite ele e a família foram a uma sorveteria. Maria chupou sorvete até lambuzar o rostinho.
Alex Zigar
Alex, amei este conto.
ResponderExcluirAtitude erronea, porem, nobre.
Gostei muito.
Obrigado Karen! Sua visita aqui no blog é sempre uma alegria.
ResponderExcluirEis aqui, uma admiradora desse conto. É bem verdade o que escreve Alex, alguns com suas riquezas e outros nas suas condições miseráveis. Sem o lazer, sem o prazer... Aline de Lira (O Livreiro)
ResponderExcluirAline, obrigado pelo comentário gentil e pela visita. Seja bem-vinda as Letras incertas. Realmente o que faz este país ser tão injusto e separá-lo entre os afortunados e os miseráveis, é a péssima distribuição de renda. Enquanto uns se escondem entre muros e grades, pelo excesso de violência, outros tentam sobreviver a tudo, beirando muitas vezes ao abismo da loucura.
ResponderExcluirMais uma vez obrigado.
Abraços!