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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sonâmbulo


[Café Noturno (1888) - Van Gogh]

Sonâmbulo



Costumo caminhar pelas ruas vazias
e a perder-me
A observar as rodas impecáveis dos automóveis
E a sentir o cheiro das prostitutas pela manhã
A andar pelas casas
e pelos os telhados vazios
e pela tarde morna
Com pedestres atônitos e vazios
Pelos fios dos postes
Carregados de energias e vozes
e casas desamparadas e de alvenarias
Com alfinetes e relógios
e caixas e utensílios descartáveis
E encontro campos e terras
com homens e mulheres
E fábricas de metais novos de nova engenharia
Óleos e burocracias
e escritórios e delegacias
Costumo caminhar pelas ruas vazias
A observar os mortos que marcham sólidos
E abatidos pela monotonia
Costumo caminhar pelas ruas vazias
E perder-me infinitamente
Entre ruas e casas
Assaltos e mortes
Atentados insanos e crimes passionais
Creio estar pálido
E pálido vou pela rua
Cruzando céus e muros
Sonolento das incertezas do mundo
Talvez já esteja morto e não sabia


6 comentários:

  1. Bonito, mas um pouco melancólico. Mas fico feliz que você está voltando ao nosso ccomvívio.

    Abs

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  2. Ótimo, junto-me ao coro dos amigos insatisfeitos que reclamaram a ausência! Seja bem-vindo novamente à blogosfera.

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  3. Gilson, acho que tenho o espírito de um Schopenhauer, mas sem a ironia de um Machado. Obrigado pelo comentário.

    abraços

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  4. K, obrigado pelas boas-vindas. É bom estar de volta e poder ler suas resenhas novamente.

    Um forte abraço.

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  5. Maravilha de poema! Acompanhado de Van Gogh, então...

    E o texto inicial é ótimo, rs...

    Beijo.

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  6. Não tenho vaidades, não quero ter vaidades... Mas ter Lara Amaral no quintal enche a gente de orgulho. Obrigado, Lara.

    (Esse quadro de Van Gogh é uma saturação da vida, parece que todos estão cansados de si mesmo e a qualquer momento alguém se matará)

    Abraços

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